sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

MACHADO DE ASSIS

Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839, faleceu em 29/09/1908.

Não se irrite o leitor com esta confissão.
Eu bem sei que, para titilar-lhe os nervos da fantasia, devia padecer um grande desespero, derramar algumas lágrimas, e não almoçar.
Seria romanesco; mas não seria biográfico.
A realidade pura é que eu almocei, como nos demais dias...
Machado de Assis


Teoria do Humanitismo (Quincas Borba)
Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas.
As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição.
A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação.
Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. (...) ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.
Machado de Assis



"...tempo é um tecido invisivel em que se pode bordar tudo, uma flor, um pássaro, uma dama, um castelo, um túmulo. Também se pode bordar nada. Nada em cima de invisivel é a mais sutil obra deste mundo, e acaso do outro."





A distância é como os ventos: apaga as velas e acende as grandes fogueiras.


Guarda estes versos que escrevi chorando como um alívio a minha saudade, como um dever do meu amor; e quando houver em ti um eco de saudade, beija estes versos que escrevi chorando.

Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução, alguns dizem que assim é que a natureza compôs as suas espécies.






Eu não sou homem que recuse elogios.
Amo-os; eles fazem bem à alma e até ao corpo.
As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado.



Helena Machado de Assis
"— Não sei o que é medo, interrompeu ela com ingenuidade.
— Sim? Não a supunha valente. Pois eu sei o que ele é.
— O medo? O medo é um preconceito dos nervos.
E um preconceito desfaz-se; basta a simples reflexão.
Em pequena educaram-me com almas do outro mundo.
Até a idade de dez anos era incapaz de penetrar numa sala escura.
Um dia perguntei a mim mesma se era possível que uma pessoa morta voltasse à terra.
Fazer a pergunta e dar-lhe resposta era a mesma coisa.
Lavei o meu espírito de semelhante tolice, e hoje era capaz de entrar, de noite, num cemitério...
E daí talvez não: os corpos que ali dormem têm direito de não ouvir mais um só rumor de vida. Estácio chegara ao último degrau da escada.
As derradeiras palavras ouviu-as ele com os olhos fitos na irmã e encostado ao poial de pedra.
— Quem lhe ensinou essas idéias? perguntou ele.
— Não são idéias, são sentimentos. Não se aprendem; trazem-se no coração."



"A insônia, musa de olhos arregalados, não me deixou dormir uma longa hora ou duas; as cócegas pediam-me unhas, e eu coçava-me com a alma."
"... fui a janela indagar da noite por que razão os sonhos hão de ser assim tão tênues que se esgarçam ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo, e não continuam mais.
A noite não me respondeu logo.
Estava deliciosamente bela, os morros palejavam de luar e o espaço morria de silêncio."
Dom Casmurro


Livros e flores


Teus olhos são meus livros.

Que livro há aí melhor,

Em que melhor se leia

A página do amor?


Flores me são teus lábios.

Onde há mais bela flor,

Em que melhor se beba

O bálsamo do amor?


Um comentário:

  1. Só aprendi a ler Machado de Assis na faculdade. E hoje vejo que perdi muito esse tempo todo, porque as entrelinhas de Machado, todo o seu sarcasmo e a defesa e crítica às mulheres não tem igual.

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