quinta-feira, 29 de outubro de 2009

AUGUSTO DOS ANJOS



Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Paraíba, 20 de abril de 1884 - Leopoldina, Minas Gerais, 12 de novembro de 1914), poeta brasileiro.




Idealismo

Falas de amor, e eu ouço tudo e
amor na Humanidade é uma mentira.
E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.



O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?



Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado

— desviada do seu fulcro —


E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!
Augusto dos Anjos



Psicologia de um vencido


Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênesis da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.


Profundíssimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância...

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

Que se escapa da boca de um cardíaco.


Já o verme — este operário das ruínas
Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,


Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

E há-de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra!
Augusto dos Anjos




O Bandolim

Cantas, soluças, bandolim do Fado

E de Saudade o peito meu transbordas;

Choras, e eu julgo que nas tuas cordas,

Choram todas as cordas do Passado!


Guardas a alma talvez d’um desgraçado,

Um dia morto da Ilusão as bordas,

Tanto que cantas, e ilusões acordas,

Tanto que gemes, bandolim do Fado.


Quando alta noite, a lua é fria e calma,

Teu canto vindo de profundas fráguas,

É como as nênias do Coveiro d’alma!


Tudo eterizas num coral de endechas…

E vais aos poucos soluçando mágoas,

E vais aos poucos soluçando queixas!



A ESPERANÇA

A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.


Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?


Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a crença de fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro - avança!


E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da morte a me bradar: descansa!
Augusto dos Anjos



Soneto



Ao meu primeiro filho
nascido morto com 7 meses incompletos
2 fevereiro 1911.


Agregado infeliz de sangue e cal,
Fruto rubro de carne agonizante,
Filho da grande força fecundante
De minha brônzea trama neuronial


Que poder embriológico fatal
Destruiu, com a sinergia de um gigante,
A tua morfogênese de infante,
A minha morfogênese ancestral?!

Porção de minha plásmica substância,
Em que lugar irás passar a infância,
Tragicamente anônimo, a feder?!...

Ah! Possas tu dormir feto esquecido,
Panteisticamente dissolvido
Na noumenalidade do NÃO SER!
Augusto dos Anjos

SOLITÁRIO

Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!


Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos contorta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!


Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,

-Velho caixão a carregar destroços -


Levando apenas na tumba carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
Augusto dos Anjos



VERSOS ÍNTIMOS

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos

www.pensador.info/autor/Augusto_dos_Anjos/

terça-feira, 27 de outubro de 2009

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

E preciso coragem!


6º HUMOR

_Olá, me da um refrigerante por favor
_Droga, está tampa não quer abrir
_Pra ela abrir você tem que torcer
_"ABRI... ABRI... ABRI"



terça-feira, 20 de outubro de 2009

VINICIUS DE MORAES







Soneto do Orfeu


São demais os perigos dessa vida

Para quem tem paixão, principalmente

Quando uma lua surge de repente

E se deixa no céu, como esquecida

E se ao luar, que atua desvairado

Vem unir-se uma música qualquer

Aí então é preciso ter cuidado

Porque deve andar perto uma mulher

Uma mulher que é feita de música

Luar e sentimento, e que a vida

Não quer, de tão perfeita

Uma mulher que é como a própria lua:

Tão linda que só espalha sofrimento,

Tão cheia de pudor que vive nua.

*


Tomara Que você volte depressa

Que você não se despeça

Nunca mais do meu carinho

E chore, se arrependa

E pense muito

Que é melhor se sofrer junto

Que viver feliz sozinhoTomara

Que a tristeza te convença

Que a saudade não compensa

E que a ausência não dá paz

E o verdadeiro amor de quem se ama

Tece a mesma antiga trama

Que não se desfaz

E a coisa mais divina

Que há no mundo

É viver cada segundo

Como nunca mais...





O VELHO E A FLOR Por céus e mares eu andei,

Vi um poeta e vi um rei

Na esperança de saber

O que é o amor.

Ninguém sabia me dizer,

Eu já queria até morrer

Quando um velhinho

Com uma flor assim falou:

O amor é o carinho,

É o espinho que não se vê em cada flor.

É a vida quando

Chega sangrando aberta em pétalas de amor.



De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.


Eu não existo sem você
















Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você
Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvemSó acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
Eu não existo sem você.
Vinícius de Moraes

*


Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.
*
É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.
*
Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.
*
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...*
(Vinícius de Moraes)

www.pensador.info/autor/Vinicius_de_Moraes/
*

Felicidades...


5º HUMOR

Homenagem ao dia do professor
_ Que notas são estas?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

MAURICIO DE SOUZA



Mauricio de Sousa nasceu no Brasil, numa pequena cidade do estado de São Paulo, chamada Santa Isabel. Foi em outubro de 1935.
Seu pai era o poeta e barbeiro Antônio Mauricio de Sousa. A mãe, Petronilha Araújo de Sousa, poetisa. Além de Mauricio, o casal teve mais três filhos: Mariza (já falecida), Maura e Marcio.





Crônica 286 - "Eu posso!"
Ah, esta certeza instigante do fim.
Do nada, ou do tudo.
Mas simplesmente e certamente do desconhecido.

Olhamos para o lado, para o tempo passando, e não vemos mais os amigos chegados.
Vamos perdendo as referências vivas.
Vamos nos perguntando quando será a vez?
Como numa loteria de pedras marcadas. Onde seu número está misturado, mas prontinho para surpreender.

E o depois?
Temos que nos preocupar com isso?
Ou nossa ausência será o castigo para os que ficarem?

Ou prêmio?
Afinal, deixaremos vazios de oportunidades.
Não ocuparemos mais espaços em hierarquia, no mando, na eventual autoridade...

Mas... Eu queria tanto ficar mais um pouco.
E mais um pouco do que mais.
Tanta coisa não vivida.
Mas contada, cantada e desejada.

Se possível com asas, guelras e garras.

Voaria sobre campos, mares e cordilheiras,
Mergulharia nas maravilhas das profundezas,

Me agarraria às rochas, picos e gretas...

Me embrenharia no torvelinho das cidades,
Me emocionaria com sua gente,

Me apoiaria nas suas esperanças...

Abriria os olhos do coração para a beleza,
Cobriria meu amor com tantos beijos...
E não esqueceria da outra metade de nossa alma.

Afagaria pelo, pele, cascos e escamas,
Daria de comer a filhotes esfaimados,
Libertaria todos os enjaulados...

Nas crianças eu gastaria mais de tudo.
Bebendo dos seus olhares ingênuos
A esperança da vida renovada.

Companheiro, pai, irmão,
Mãe se preciso...
Mas junto, presente, de mãos dadas.

Respeitaria meu corpo

Me afastaria das agressões...
Me preservaria para mais um dia, que fosse, de amor a terra.

Procuraria meu Deus com mais empenho,
Toleraria minhas dúvidas sobre seu paradeiro,

Me deitaria na certeza de sua companhia...

Ah, se eu pudesse...
Mas eu posso!
Se estou aqui.

Mauricio de Souza
11.03.2004
Alguns personagens

Os professores inesquecíveis

Quem lê faz
Mauricio de Souza
Copyright ©2005 Mauricio de Sousa ProduçõesTodos os direitos reservados.

O que você acha?


_ Ahá! Daqui a pouco, o grande espetáculo!


_ Adoro assistir ao pôr-do-sol!
_ É uma das coisas mais bonitas, mais majestosas da natureza!

_ Conforme o dia, é tão bonito que me emociona até as lágrimas !
_ Só falta uma coisa pra ficar ainda mais perfeito...

_ ... Acenderem a luz, depois do final, do show!

Caminhos...

" Não sabemos qual caminho da vida seguir...
Mas sabemos que temos que caminhar."

4º HUMOR

_ Meu quebra-cabeça ficou mais fácil de montar. Ele era de 300 peças, mas sumiram algumas...
_ Quantas?
_ 299

MÁRIO QUINTANA


Mário de Miranda Quintana foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro. Nasceu em Alegrete na noite de 30 de julho de 1906 e faleceu em Porto Alegre, em 5 de maio de 1994.


A verdadeira arte de viajar...
Quiseste expor teu coração a nu.

E assim, ouvi-lhe todo o amor alheio.
Ah, pobre amigo, nunca saibas tu

Como é ridículo o amor... alheio!


DA DISCRIÇÃO Não te abras com teu amigo

Que ele um outro amigo tem.

E o amigo do teu amigo

Possui amigos também...
Quando eu for, um dia desses,

Poeira ou folha levada

No vento da madrugada,

Serei um pouco do nada

Invisível, delicioso


Que faz com que o teu ar

Pareça mais um olhar

Suave mistério amoroso,

Cidade de meu andar

(Deste já tão longo andar!)



E talvez de meu repouso...


www.pensador.info/autor/Mario_Quintana/